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domingo, 7 de julho de 2013

Formosa lucra na terra e no céu




Cidade goiana se transformará, até 2018, no maior centro de lançamentos de foguetes bélicos do Brasil. As obras começam neste semestre, ao custo de R$ 1,2 bilhão, e prometem impulsionar ainda mais o setor da construção civil no município
Renato Alves
Formosa começou a ser ocupada por pequenos comerciantes no século 18, quando era ponto de passagem para tropeiros. Quase 300 anos depois, a cidade goiana, distante 75km de Brasília, é um grande celeiro de grãos. E, depois das mulas dos viajantes, do gado dos grandes fazendeiros do século passado e das máquinas agrícolas de hoje, objetos voadores identificados começam a fazer parte do cenário. Abandonado por décadas, o aeródromo local está ficando pequeno para tantos helicópteros e aviões de pequeno porte vindos do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em decorrência das altas taxas e da falta de hangares. Se não bastasse, o município de 102 mil habitantes vai se transformar no maior e mais moderno centro de lançamentos de foguetes bélicos do país.

Em Formosa, fica o 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes e Campo de Instrução do Exército Brasileiro (6º GLMF). Nas dependências da unidade, serão construídas outras duas, especializadas em mísseis e foguetes e destinadas a operar o Astros 2020, uma das sete prioridades estratégicas no processo de modernização da força terrestre do Exército (leia Para saber mais). Chamada de Forte de Santa Bárbara, a nova base receberá o avançado míssil AV-TM, de fabricação nacional, com alcance de até 300 quilômetros e lançado por terra, de blindados. As obras, segundo o Exército, começam neste semestre, com conclusão prevista para 2018 e um custo total de R$ 1,246 bilhão.

O projeto vai criar 6,6 mil empregos diretos e indiretos em empresas instaladas no estado de São Paulo, onde será desenvolvida a tecnologia e fabricado o foguete. O Exército também estima que cerca de 1,5 mil empregos diretos e indiretos serão gerados na área da construção civil em Formosa, com a ampliação da unidade de lançamento de foguetes e a edificação de vilas militares na área urbana. Quando tudo estiver pronto, haverá um acréscimo de 1,5 mil militares no efetivo do 6º GLMF, que atualmente tem pouco mais de 200. Sonhando com esses números, empresários locais e de Brasília, principalmente do setor imobiliário, já fazem grandes investimentos no município goiano.


Hotéis e lotes

Dono de dois motéis em Formosa, Lenine José Godinho, 53 anos, agora constrói seu primeiro hotel na cidade para onde se mudou há 18 anos. Erguido a toque de caixa, o prédio terá 61 suítes. Previsto para ser concluído no próximo ano, será o maior e mais moderno do município. “Formosa tem um deficit enorme de quartos e de qualidade em seus hotéis. Os empresários e representantes das firmas do setor agrícola que têm clientes aqui, muitas vezes, preferem se hospedar em Brasília, mesmo com a distância. Por isso, não temo em colocar boa parte do meu dinheiro nesse empreendimento”, afirma. Ele aposta que a demanda vai aumentar muito mais com os investimentos do Exército e de indústrias nacionais e multinacionais, como uma fábrica de cimento prestes a abrir uma unidade em Formosa.

Até a década passada, não havia edifícios no centro da cidade goiana. As maiores construções não passavam de colégios e lojas com um ou dois andares. Agora, casas têm vindo ao chão para dar lugar a prédios, como o hotel de Lenine. “Formosa entrou em um processo de verticalização sem volta, pois, praticamente, não há mais lote no centro. Dessa forma, a cada anúncio de investimento, como o do Exército, os preços só disparam. O metro quadrado de um terreno chega a custar R$ 1,8 mil. É pouco, se comparado a Brasília, mas é o dobro da maioria das cidades do Entorno”, conta Jaime Gonçalves, dono de uma das maiores imobiliárias do município e de vários loteamentos.


Armas em três anos

Só o desenvolvimento do míssil e do novo foguete balístico guiado AV-40, com 40km de raio de ação, vai custar R$ 235 milhões, dos quais R$ 195 milhões só para o AV-TM. O lote inicial será recebido em 2016.

Apartamentos

A fim de abrigar os militares, o Exército já anunciou a construção de uma vila militar no Bairro Laguna 2, com três blocos de apartamentos para 74 famílias. O empreendimento está orçado em R$ 16 milhões. O dinheiro já está disponível.

Prédios e veículos

O projeto prevê a instalação de bateria de busca de alvos, paióis de munições e a revitalização do quartel de Formosa. As unidades terão um comando e estado-maior, uma bateria de comando e três baterias de lançamento. Cada conjunto operacional contará com 15 veículos: seis carretas disparadoras, seis remuniciadoras e viaturas blindadas para o comando, a estação meteorológica e o apoio técnico.

Para saber mais:
Líder no mercado

Astros 2020 é uma versão evoluída do Astros 2, sucesso de vendas da estatal Avibrás Aeroespacial, sediada em São José dos Campos (SP). Exportado para diversos países, o Sistema Astros é considerado líder no pequeno, seleto e competitivo grupo de concorrentes internacionais. Com a plataforma, o Exército espera ter apoio de fogo de longo alcance com elevados índices de precisão e letalidade.

A navegação do AV-TM é feita por uma combinação de caixa inercial e um GPS. O míssil faz acompanhamento do terreno com um sensor eletrônico, corrigindo o curso em conformidade com as coordenadas armazenadas a bordo. Seu alvo é uma instalação estratégica — refinarias, usinas geradoras de energia, centrais de telecomunicações, concentrações de tropa, depósitos, portos, bases militares e complexos industriais.


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