...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Abin vai investigar participação, em protesto, de agente autuado




DESORDEM NAS RUAS

Igor Matela afirma que estava em "livre manifestação política"
Antônio Werneck
Vera Araújo

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) anunciou ontem que vai abrir uma sindicância para investigar a participação de um agente do órgão, Igor Pouchain Matela, no protesto ocorrido no último dia 17 de julho nas proximidades da residência do governador Sérgio Cabral, no Leblon, que terminou com atos de vandalismo no bairro. Igor e a mulher, Carla Hirt, ambos geógrafos, foram autuados na 14ª DP. Carla por formação de quadrilha, porque teria atirado pedras na vidraça de uma loja, e Igor por ter desacatado o policial militar Thiago Freitas de Oliveira e a delegada-adjunta Flávia Monteiro, já na delegacia. A Abin informou que Igor estava de férias e não havia qualquer determinação para ele atuar no protesto. O caso já está sendo investigado pela Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo (CIEV), que reúne membros do Ministério Público e das polícias Civil e Militar.

Ontem, Carla e Igor negaram qualquer envolvimento nos atos de vandalismo e disseram também não serem verídicas as suposições de que o agente da Abin estivesse agindo infiltrado. Segundo eles, não havia "outras intenções que não a livre manifestação política". Ele não foi detido na rua durante a manifestação, mas autuado na delegacia, depois de ter sido acusado pelo policial e a delegada.

Igor disse que esteve no protesto como cidadão e saiu de lá antes do início da confusão. Ele contou que, quando a mulher foi detida, já estava em casa. Em mensagem postada em redes sociais, afirmou que a mulher ligou para ele avisando sobre sua detenção e também que tinha sido ferida. "Corri para a DP e cheguei lá uns 30 minutos depois, indignado, perguntando pela minha esposa e questionando o abuso de autoridade da PM", diz Igor em mensagem publicada nas redes sociais.

O funcionário da Abin também deu referências sobre o "efetivo e honesto engajamento político" dele e de Carla, como professores do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da UFRJ, o vereador Eliomar Coelho (PSOL), o Comitê Popular da Copa e Olimpíadas e a Justiça Global. Igor acrescentou ainda que foi injustamente acusado de desacato. Ele contou que, na delegacia, identificou-se apresentando a carteira de habilitação e só disse que era da Abin após ser questionado pela delegada. Igor garantiu que em momento algum, como informou uma nota da Polícia Civil, "tentou usar isso (o fato de ser agente da Abin) para o que quer que seja, pois, se fosse assim, teria sido autuado por abuso de autoridade ou então teria sido liberado".

POLÍCIA DÁ VERSÃO DIFERENTE

O PM Thiago Freitas de Oliveira contou, no entanto, que foi xingado e ameaçado por Igor, que teria dito que acabaria com a vida do policial. Embora o próprio Igor tenha confirmado que se identificou com o agente da Abin, essa informação não consta no registro policial. A delegada-adjunta Flávia Monteiro, que também prestou depoimento como vítima de Igor, contou que o agente lhe deu "um forte esbarrão" quando estava na Sala de Inteligência Policial (Sip). Ao pedir que ele se identificasse, Igor teria respondido de forma irônica e ríspida: "Quem você pensa que é?" Flávia teria mostrado sua carteira de delegada, mas, segundo ela, em tom de deboche, o agente mandou que ela esperasse. Ela lhe deu, então, voz de prisão.

O advogado criminalista Márcio Donnici, que coordenava um grupo de Advogados do coletivo Habeas Corpus, presenciou a discussão entre Igor e a delegada. Ele contou que Carla havia chegado juntamente com outros manifestantes detidos, muito abalada, dizendo que tinha sido agredida pelos policiais. Ela chorava, e o marido estava muito nervoso. Igor, então, segundo relatou Donnici, visivelmente alterado, apresentou-se como agente da Abin.

- Carla Hirt afirmava que tinha sido espancada por policiais, e era conduzida de forma agressiva mesmo. Os policiais, por sua vez, a acusavam de ter sido presa se excedendo junto com outros manifestantes. A acusação, se não me engano, era de que ela havia jogado pedras. O marido estava possesso e dizia que era da Abin. A delegada deu voz de prisão. Ele bancava que era da Abin, mas não mostrava qualquer documento. Logo em seguida, chegou outro homem, todo de preto, que seria amigo dele, e este sim afirmava ser agente da Abin e mostrava as credenciais. Também muito alterado, dava carteirada e mostrava distintivo. Com ele chegou uma advogada, que parecia ser mulher dele. Pediram que ele se retirasse da sala, mas ele ficou do lado de fora com a mesma atitude e tentou entrar outras vezes na sala - contou Donnici.


Nenhum comentário:

Postar um comentário