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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Um santo desafio em Aparecida



Ameaças de protestos e mau tempo levam a mudanças na estratégia de segurança

Gustavo Uribe, Marcelle Ribeiro e Tatiana Farah

APARECIDA (SP)




Mau tempo, ameaças de protesto e riscos de segurança mudaram ontem os planos da visita do Papa Francisco a Aparecida, no interior de São Paulo. O Pontífice faria uma viagem única de helicóptero do Rio até a cidade paulista, mas, com a previsão de chuvas, usará também um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para deslocamento até São José dos Campos, a 81 quilômetros do santuário. Só depois usará o helicóptero. Com isso, a chegada prevista para as 9h30m foi alterada para as 10h.

Ainda devido às chuvas, a Polícia Federal trabalha com um plano B: o Papa pode percorrer de carro o trajeto de São José dos Campos a Aparecida. Pelo menos seis veículos ficarão de prontidão na Via Dutra para acompanhar uma provável passagem de Francisco. Assim, a Polícia Rodoviária Federal não descarta a possibilidade de interditar todas as faixas da rodovia no sentido de Aparecida.

Além do mau tempo, os riscos de novos protestos como o ocorrido durante a chegada do Papa ao Rio aumentaram o contingente das forças de segurança em Aparecida. A previsão da semana passada, de acordo com a prefeitura, era de cerca de quatro mil homens, mas esse número foi estendido para mais de cinco mil, sendo 2.500 das Forças Armadas.

Ontem, a Polícia Federal e as Forças Armadas simularam todo o trajeto que será percorrido pelo Papa, incluindo o Santuário de Nossa Senhora e o Seminário Bom Jesus, onde Francisco almoçará e abençoará uma estátua de oito metros de frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. O Exército e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) montaram um gabinete regional para monitorar Aparecida, com mais de cem câmeras que vigiam as ruas da cidade, a Rodovia Dutra e o santuário.



Ameaça de bomba dá origem a varredura

Um dia depois de a Polícia Militar (PM) ter anunciado que encontrou um artefato explosivo em um banheiro do estacionamento do santuário, os agentes de segurança fizeram varreduras pelos locais por onde o Papa passará. As vistorias se estenderão até a manhã de hoje, sendo que a última inspeção será feita na cozinha e no refeitório onde Francisco almoçará. Segundo a PM, o artefato encontrado no banheiro era um cano de plástico envolvido em fita adesiva de baixo potencial lesivo.

Segundo o bispo auxiliar de Aparecida, dom Darci José Nicioli, a expectativa é de receber 120 mil fiéis, mas a Arquidiocese se preparou para acolher até 300 mil visitantes. Ontem, segundo o Sindicato dos Hotéis, ainda havia pouco menos de mil vagas dos 33 mil leitos disponíveis na cidade. Desde a madrugada de ontem, peregrinos já acampavam ao redor dos muros do santuário para tentar garantir um lugar na missa que será celebrada pelo Pontífice dentro da basílica.

- Quando vi o Papa chegando ao Brasil, no avião, senti uma simpatia nele. Me deu um estalo e falei para a minha mulher: vou lá. Pegar na mão do Papa seria uma bênção para a minha vida. Não me importo com a chuva e o frio. Vim preparado - contou o aposentado José Carlos Costa, 65 anos, de São José dos Campos.

Com saco de dormir e cobertor, Costa guardava o primeiro lugar na fila de entrada para a missa, desde as 16h30m de anteontem. A um homem que ofereceu R$ 2 mil para ficar em seu lugar, ele respondeu:

- Nem por R$ 5 mil - disse o aposentado, que espera receber uma das 15 mil pulseirinhas que garantem um lugar dentro da basílica.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) organiza para hoje um protesto no caminho que será percorrido por Francisco com o papamóvel. Segundo Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST, os manifestantes chegarão em três ônibus e farão um protesto pacífico, pedindo ao Papa que se pronuncie contra as remoções de moradores do entorno das obras da Copa e contra as mortes provocadas por policiais.

- Não estamos preocupados com nada. Isso nem passou pelas nossas cabeças. Essas manifestações são muito espontâneas e estão ocorrendo em todo o país. Por que seria diferente em Aparecida? Está dentro do clima geral do Brasil. A manifestação é bem-vinda, desde que seja com ordem. Que se manifestem, que cantem e rezem conosco - disse a O GLOBO o bispo dom Darci José Nicioli.

As forças de segurança prometem rigor na contenção dos protestos. A Polícia Federal informou que, em virtude das manifestações do Rio, aumentou em cem agentes o número de policiais que farão a segurança durante o trajeto.

- Estamos preparados para conter manifestações que sejam contrárias à pessoa do Papa - disse o tenente-coronel da PM Marcos Renato Vieira, comandante da Operação Jesuíta.

Segundo ele, os dois mil homens da PM não vão permitir qualquer tipo de "propaganda que denigra a imagem do Papa, da Nação, das instituições" dentro da basílica. Não serão permitidos também o uso de bandeiras ofensivas e manifestações como a do grupo Femen.

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