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domingo, 28 de julho de 2013

EUA espionaram Brasil sobre sanções ao Irã, diz revista





País foi um dos vigiados antes de votação na ONU , mostra documento da NSA

A Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos espionou países-membros do Conselho de Segurança (CS) da ONU em 2010 — incluindo o Brasil — antes da votação das sanções contra o Irã por causa do programa nuclear do país do Oriente Médio. O objetivo era saber como votariam os integrantes do órgão. A revelação, na edição de hoje da revista “Época” , baseia-se em documento ultrassecreto da NSA ao qual a publicação teve acesso . O esquema geral de espionagem às representações diplomáticas do Brasil em Washington e na ONU, em Nova York, já fora revelado pelo GLOBO no início do mês, em documentos secretos repassados pelo ex-analista de informações da NSA e da CIA Edward Snowden ao jornalista do “Guardian” Glenn Greenwald, também colabora-dor da “Época” . Snowden está refugiado no Aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, à espera de asilo em algum país. Desta vez, porém, vêm à tona indícios de um caso concreto. E também, contrariamente ao que garante o governo americano, que a NSA não coleta apenas os chamados metadados — informações como quem fez uma chamada telefônica, para quem fez, tempo de duração etc. — mas também obteve acesso ao conteúdo das mensagens. O documento de agosto de 2010, intitulado “Sucesso silencioso” e marcado como ultrassecreto numa categoria com proibição de exibição a estrangeiros, indica espionagem de comunicações diplomáticas de Brasil, França, Japão e México — todos membros do Conselho de Segurança naquele momento (a França em caráter permanente).

ALTERNATIVA ÀS SANÇÕES

Nos meses anteriores, os governos brasileiro e turco trabalharam por uma alternativa às sanções que permitiria ao Irã enriquecer urânio num país vizinho indicado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), provavelmente a própria Turquia. Como são necessários nove dos 15 votos — e nenhum veto dos cinco membros permanentes: EU A, Rússia, China, Rei-no Unido e França — para aprovar resoluções no CS da ONU, o governo americano não queria surpresas na votação. Alguns dos integrantes rotativos do órgão na ocasião não tinham posição clara sobre as sanções . Segundo o documento , a então embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, teria dito que a informação obtida por meio de espionagem ajudou-a a “saber quando os outros representantes permanentes (no CS) estavam falando a verdade (...) revelou sua real posição sobre as sanções (...) nos deu uma vantagem nas negociações (...) e forneceu informações sobre os limites de vários países”.

PARA MINISTRO, ‘DEPLORÁVEL ’

Os comentários feitos por Rice, atual assessora de Segurança Nacional do presidente Barack Obama, indicam que houve acesso ao conteúdo das mensagens interceptadas. E Rice não teria apenas sido informada do resultado da espionagem: ela também teria solicitado que integrantes do Conselho de Segurança não contemplados na investigação inicial fossem incluídos. “Em resposta à solicitação específica da representante dos EU A na ONU, a NSA começou a ter como alvos outros quatro países não permanentes ”, diz o documento citado pela “Época” . A votação das sanções acabou aprovada em 9 de junho de 2010 por 12 votos a dois (Brasil e Turquia) e uma abstenção (Líbano). Procurados pelo GLOBO, o Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada do Brasil na ONU não quiseram se pronunciar . A Embaixada dos EUA em Brasília não respondeu ao questiona-mento até o fechamento da edição. Já o ministro das Comunicações , Paulo Bernardo , classificou como “deplorável” a espionagem e se mostrou decepcionado , afirmando que a atitude americana desmoraliza um ambiente como o da ONU, onde são realizadas negociações multilaterais e é fundamental a confiança. —O episódio é deplorável. As conversas eram só pró-forma — disse, defendendo a governança compartilhada na internet . Ele lembrou que o vice-presidente Jo e Biden, logo após as revelações de que os brasileiros foram espionados pelos EU A, telefonou à presidente Dilma Rousseff e convidou Brasília a enviar uma delegação a Washington para receber explicações sobre a espionagem. Também deverá vir ao Brasil uma missão de técnicos americana. (Colaboraram Mônica Tavares , de Brasília, e Isabel de Luca, de Nova York)

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