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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Comprovar se EUA espionaram é quase impossível, diz general

Chefe do Centro de Defesa Cibernética defende colaboração de Snowden

Vinicius Sassine

BRASÍLIA
Edward Snowden e Sarah Harrison do WikiLeaks se reúnem com defensores de direitos humanos no aeroporto de Moscou HANDOUT / Reuters
A constatação de uma suposta espionagem dos Estados Unidos nas Forças Armadas do Brasil é uma atividade "quase impossível" e só ocorreria a partir de revelações do ex-técnico da CIA Edward Snowden. É o que afirma o general José Carlos dos Santos, chefe do Centro de Defesa Cibernética instalado no Exército, em entrevista ao GLOBO.

Desde a publicação pelo jornal sobre o acesso ilegal do governo americano a dados no Brasil e em outros países da América Latina, o general passou a analisar a possibilidade de dados militares do país terem sido acessados. Esta análise é feita inclusive no âmbito do grupo interministerial criado pela presidente Dilma Rousseff para analisar a suposta espionagem.

- Existe essa possibilidade. Ousaria dizer até que Estados como a hiperpotência americana têm capacidade de acessar isso. Não temos nenhum indício e é uma tarefa muito complexa, do ponto de vista tecnológico, chegar a uma conclusão. Mesmo os melhores peritos forenses, que hoje estão na Polícia Federal, teriam muita dificuldade de fazer esse levantamento - disse o general.

O chefe do Centro de Defesa Cibernética contribuiu para a elaboração dos questionamentos ao embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, sobre a prática de espionagem no Brasil. O general entende, no entanto, que confirmações sobre suspeitas ou novas informações não partirão do embaixador, mas de depoimentos de pessoas como o ex-técnico da CIA:

- Espera-se que o Snowden seja ouvido um dia. Se não houver colaboração de um agente como ele, dificilmente haverá uma conclusão (sobre acesso a dados militares). É complicado do ponto de vista tecnológico verificar se o sistema (de registro de dados) está sendo utilizado no Brasil. Vamos colocar medidores, sensores nos roteadores?

Os roteadores e switches utilizados no país, inclusive pelas Forças Armadas, são fabricados com tecnologia americana, o que permitiria o vazamento de dados. Para Santos, essa dependência amplia a vulnerabilidade.

Exército, Marinha e Aeronáutica desenvolvem os próprios sistemas de criptografia, que codificam as mensagens oficiais trocadas. No Exército, a produção dos equipamentos cabe ao Centro de Desenvolvimento de Sistemas. O Instituto Militar de Engenharia (IME) vem desenvolvendo novas técnicas e equipamentos de criptografia, e um novo laboratório será inaugurado em outubro, segundo o general. O Exército também faz parcerias para desenvolver um antivírus nacional e lançá-lo comercialmente.

- Teoricamente, nenhum sistema criptográfico é perfeito. Chaves podem ser quebradas com poder computacional, mas, basicamente, nosso sistema é muito bom. Nunca constatamos uma quebra. Não há indício de violação - diz Santos.

Ele acredita que tanto os EUA quanto outros países - cita Rússia, Reino Unido e França - têm capacidade tecnológica para acessar inclusive o conteúdo de dados sigilosos no Brasil, e não somente os metadados (registros como tempo e duração das chamadas, destinatários, data da troca de mensagens).

Hoje, o Centro de Defesa Cibernética tem 50 pessoas diretamente envolvidas, e a previsão é que chegue a 150. O general considera "suficiente" o orçamento de R$ 90 milhões previsto para 2013, dinheiro a ser gasto com monitoramento, gestão de risco e capacitação.

Ele tem uma página no Facebook e diz sentir-se seguro:

- À medida que não coloco informações funcionais ali, não vejo problema. Temos de ter consciência de que o que colocamos nessas redes sociais são informações de domínio público.

Asilo temporário Na Rússia

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, somou-se ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e também considerou insuficientes as respostas do governo americano sobre as denúncias de espionagem feitas por Snowden. De acordo com Cardozo, ministros de todas as áreas estão tomando providências sobre o caso, por determinação de Dilma, e o governo dos EUA será de novo instado a dar esclarecimentos.

Ontem, ativistas de direitos humanos e líderes religiosos nos EUA entraram com um processo contra o governo Obama. Os grupos acusam a Agência de Segurança Nacional (NSA), o Departamento de Justiça, o FBI (a polícia federal americana) e os diretores das agências de levarem a cabo "um programa ilegal e inconstitucional de vigilância eletrônica". A ação ocorreu no mesmo dia em que o advogado de Snowden afirmou que o autor das denúncias solicitou asilo temporário à Rússia.

O Globo/ SoS Família Militar


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