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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Russo é preso por pular muro de quartel no AM

Denis Saltanov está detido há 35 dias; defesa diz que ele só queria ir ao zoo

Marcelo Gomes-Rio

O russo Denis Alexandrovich Saltanov, de 42 anos, está preso desde 19 de abril em uma cela individual na 12.ª Companhia de Polícia do Exército em Manaus (AM). Por volta das 10h20 daquele dia, ele foi preso em flagrante por entrar clandestinamente no Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército (GICS), na capital amazonense. Em 10 de maio, o Ministério Público denunciou o estrangeiro pelo crime de"penetrar em estabelecimento militar por onde seja defeso ou não haja passagem regular", previsto no artigo 302 do Código Penal Militar. Se condenado, ele pode pegar de 6meses e 2 anos de detenção. Na semana passada, o Superior Tribunal Militar (STM) negou hábeas corpus a Saltanov. A Defensoria Pública da União pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). A Embaixada da Rússia já foi comunicada.
No procedimento aberto pelo Exército, uma tenente disse que, ao perguntar o motivo que levou o russo a saltar para dentro do quartel, ele respondeu que era "para testar o treinamento dos soldados", com visível "ar de deboche, sorrindo e gracejando". Um major afirmou que, ao questionar se essa atitude é comum em seu país, o russo disse não. Ainda segundo o major, Saltanov sabia que o que havia feito era contra a lei. Ao ser interrogado em inglês, com a ajuda de um intérprete, o russo disse que pretendia visitar o zoológico (que fica dentro do GICS), mas que pretendia usar a entrada principal. Ele não diz por que decidiu pular o muro. No final, pediu para ver a identificação do escrivão que lavrou o auto de prisão.
O defensor público da União Thomas Luchsinger diz que Saltanov nega que tenha dito que queria testar o treinamento dos soldados. "O zoológico é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Manaus. Ele estava com um mapa que não dizia que ali era uma instalação militar. Além disso, as placas de perigo são em português e ele mal fala inglês. Do local onde pulou o muro, não conseguia ver nenhum sentinela. Só quis cortar caminho pela mata."
Indagado se Saltanov poderia ser espião, Luchsinger descartou a hipótese. "Ele não fez nada na clandestinidade. Eram 10h20. Além disso, aquele quartel não tem relevância para a segurança nacional. Não tem nada secreto ali. E os treinamentos dos militares são feitos na selva amazônica, não no quartel".
Saltanov está viajando pela América do Sul desde 5 de fevereiro. De acordo com bilhetes apreendidos com o russo, ele deu entrada pela última vez no Brasil em 24 de abril por Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia. Depois, seguiu de barco até Manaus. Em seu perfil no Facebook, há fotos tiradas no Brasil, na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Peru. Nascido em Moscou, Saltanov também tem cidadania equatoriana, porque foi casado com uma mulher daquele país. Ele estava com passaportes da Rússia e do Equador. O russo é jornalista e fotógrafo registrado na Associação Mundial de Imprensa.
A Embaixada da Rússia informou que Saltanov não responde por nenhum crime em seu país e está prestando apoio consular e diplomático ao cidadão russo em conformidade com as normas do país e internacional.
Facebook.Mesmo preso, nos dois últimos dias houve várias atualizações no Facebook de Saltanov. Uma das postagens, em russo, diz: "Todas as perguntas, solicitações, sugestões, meu advogado(sic)Thomas!". Em outra, há o endereço e telefones da Embaixada da Rússia em Brasília. Procurado pelo Estado, o Comando Militar da Amazônia (CMA) negou que Saltanov tenha acesso a computadores ou celulares na cela.

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