Wilson Trezza diz que, mesmo após atentado de Boston, terrorismo não é o que mais preocupa nos grandes eventos do Brasil
Lisandra Paraguassu
O Estado de S. Paulo
O Estado de S. Paulo
Nem o atentado da maratona de Boston em
15 de abril aumentou a preocupação do governo brasileiro em relação a
atos terroristas nos grandes eventos que o País vai receber a partir do
mês que vem, como a Jornada da Juventude (com a visita do papa
Francisco) e a Copa das Confederações. O crime organizado ainda
concentra a atenção dos órgãos de segurança. “É ao crime comum que
precisamos dar mais atenção”, diz o diretor-geral da Agência Brasileira
de Inteligência (ABIN), Wilson Trezza.
O Brasil vai enfrentar uma sequência de
grandes eventos como poucos países já tiveram. O que mais preocupa?
Periodicamente, fazemos novas avaliações para verificar que ameaças
permanecem, se aumentaram de potencial ou diminuíram. O crime
organizado, o crime comum, o tráfico de entorpecentes e os eventuais
ataques a turistas, como tivemos recentemente, são preocupantes. Ao
crime comum é que precisamos dar mais atenção.
O atentado na maratona de Boston causou alarme?
O fato de não ter tido antes um caso com
essa repercussão não significa que não tenham acontecido problemas.
Ocorreram ações de grupos extremistas e atentados em várias partes do
mundo. Claro, um atentado em um dos países que mais investem para evitar
ações desse tipo coloca todo mundo em alerta. E, para nós, passa a
fazer parte das preocupações cotidianas. Mesmo assim, nossas avaliações
não são de que o terrorismo assumiu uma dimensão maior do que quando
começamos. É uma possibilidade, mas não é o mais provável ou o que nos
preocupe mais.
De todos os eventos que o Brasil
vai receber, o que tem características diferentes é a Jornada da
Juventude, em julho, no Rio. Há uma dificuldade maior?
Sim. Todas as pessoas estarão no mesmo
lugar, na mesma hora, é um desafio de segurança muito grande. Pode
chegar a 3 milhões de pessoas.
Além do crime, quais são as outras preocupações?
Manifestações, por exemplo. É comum em
eventos desse porte ter grupos de pressão que tentam aproveitar a
visibilidade. Muitas vezes, nem são manifestações violentas, mas podem
acabar interrompendo ou inviabilizando um evento. Podem ser grupos
internacionais de pessoas que não têm antecedentes criminais e por isso
entram facilmente no País. Também há uma preocupação com movimentos
grevistas na época desses grandes eventos. Tudo isso pode acabar tendo
impacto na imagem do Brasil no exterior. Entendemos que um jogo da Copa
dos Confederações pode ser até menos problemático que um grande jogo do
Campeonato Brasileiro, onde a rivalidade das torcidas é um problema, mas
é um evento internacional.
Há temor de que o Brasil possa ser invadido por hooligans ou outros torcedores complicados?
O comportamento de torcidas organizadas
ou de torcedores de outros países também é objeto da nossa preocupação.
Antes dos eventos, nós nos comunicamos com todos os serviços de
inteligência com os quais temos relacionamento (hoje são 82 em todos os
continentes), fizemos pedidos de informação de todos os tipos e todos
nos responderam. Em casos de menor impacto, como o caso dos torcedores,
se há perspectivas de que essas pessoas pretendem vir ao Brasil, nós
recebemos essas informações antecipadamente.
E os nossos torcedores?
Também cuidamos dos nossos. A área de
segurança pública já tem essas pessoas mapeadas. Os principais atores
são conhecidos e nesse momento são acompanhados.
O governo está começando uma nova Operação Ágata nas fronteiras, dessa vez de norte a sul. Qual o foco dessa operação?
É o controle de entrada e saída de
pessoas ou materiais, os chamados ilícitos transfronteiriços. Nesse
momento, podemos controlar a entrada de tudo o que possa ter interesse
para segurança e combate a crimes e possa servir de ameaça aos jogos,
como tráfico de armamento, drogas, pessoas. A experiência que tivemos
nas operações anteriores é que, durante esse período, cai muito o crime.
Começamos com um mês de antecedência e a operação se estende até 10 de
junho, cinco dias antes do início da Copa das Confederações.
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