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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mísseis russos em Damasco

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Bashar Al-Assad sinaliza recebimento de armamentos de Moscou e ameaça abrir uma frente de resistência contra Israel

RODRIGO CRAVEIRO

Um confiante Bashar Al-Assad usou a rede de TV Al-Manar, da milícia xiita libanesa Hezbollah, para anunciar o recebimento da prometida remessa de um sofisticado sistema antimísseis terra-ar S-300, adquirido da Rússia. “A Síria já recebeu a primeira remessa de mísseis antiaéreos S-300. O restante chegará logo”, afirmou. “Todos os nossos acordos com a Rússia serão cumpridos e partes deles (dos mísseis) já foram implementados. Nós e os russos continuaremos a cumprir com esses contratos”, acrescentou o ditador sírio. Além de assegurar que suas tropas estão em vantagem na guerra civil, Al-Assad ameaçou estender o conflito até Israel. “Há uma pressão popular para abrir uma nova frente de resistência nas Colinas do Golã. Há vários fatores, (incluindo) as repetidas agressões israelenses”, afirmou. “Mesmo no mundo árabe, existe uma clara prontidão para se unir à luta contra Israel”, emendou.
As palavras de Al-Assad e a notícia sobre o carregamento de Moscou aumentaram a preocupação dos Estados Unidos e de Israel. “Entregar mais armas a Al-Assad, entre elas sistemas de defesa antiaérea, apenas prolongará a violência na Síria e provocará uma desestabilização da região”, disse Caitlin Hayden, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, órgão diretamente ligado à Casa Branca. Autoridades israelenses avisaram que tomarão as providências necessárias para impedir que o S-300 se torne operacional. No entanto, elas afirmaram não ter subsídios para confirmar o recebimento dos mísseis russos.
A segurança de Al-Assad em relação à vitória no confronto com os rebeldes se fortaleceu ontem, depois que a oposição síria sofreu um racha. “Não participaremos dos diálogos em Genebra até que as formações iranianas e as tropas do Hezbollah se retirem da cidade de Al-Qusair e que o bloqueio a essa e a outras cidades seja levantado”, afirmou uma fonte da Coalizão Nacional para as Forças de Oposição e Revolucionárias Sírias (NCR, pela sigla em inglês), em entrevista à agência russa Itar-Tass. Entre 15 e 16 de junho, representantes do regime de Al-Assad e da oposição se reuniriam na Conferência Genebra 2, para tentar pôr fim ao conflito. O boicote à nova reunião implicaria num retrocesso diplomático para os EUA, que não têm economizado esforços para levar os adversários de Al-Assad à mesa de debates.
“Se Al-Assad estiver mentindo sobre a encomenda de Moscou, essa pode ser uma tentativa de levantar o espírito de seus soldados, porque eles têm perdido terreno”, opinou ao Correio Susan Ahmad, porta-voz do Conselho do Comando Revolucionário em Damasco e Subúrbios. “Caso esses mísseis tenham chegado ao meu país, eles matarão mais pessoas e destruirão cidades, enquanto o mundo nada fará. Mísseis nas mãos de Al-Assad significam sangue derramado.” Susan não se sente representada pela NCR. “Nós não acreditamos que a coalizão ou outro organismo criado pela oposição no exterior possa nos representar. Eles nada fizeram até agora. As pessoas daqui acham que o mundo está se fazendo de bobo e dando ao regime novas chances. Todos os dias, mais de 100 civis morrem. O que deveríamos esperar de uma conferência?”, questiona.
Os relatos que chegam de Al-Qusair, na província de Homs, sugerem um massacre. Um médico teria dito que “é melhor morrer do que ser ferido, pois não podemos ajudá-los”. “As forças de Al-Assad bombardeiam casas, enquanto agentes do Hezbollah invadem a cidade e matam os civis que sobreviveram ao primeiro ataque. O Hezbollah não tem o direito de vir e de nos assassinar em nosso país”, desabafa Susan.

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