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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Haitiano pede que saída do Brasil seja gradual


Premiê Laurent Lamothe chega hoje ao país para reuniões; brasileiros lideram tropas da ONU e já começaram retirada

Aos 40 anos, jovem político pede 'revanche' de jogo de futebol que foi vencido pela seleção por 6 a 0 em 2004

RODRIGO RUSSO DE SÃO PAULO

O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, chega hoje a Brasília com um pedido claro e inusitado a fazer ao país: quer um novo jogo entre a seleção haitiana e a equipe brasileira na cidade de Porto Príncipe.
"O Haiti merece outra chance de jogar com a seleção", diz, em português, durante entrevista à Folha antes da viagem, por telefone.
No chamado "jogo da paz", realizado em agosto de 2004, a seleção local perdeu de 6 a 0 dos brasileiros, tratados como heróis pelos haitianos.
"Precisamos de uma revanche", brinca o premiê, que tem uma série de encontros com autoridades.
No Haiti, o Brasil lidera a força militar da missão da ONU, com a responsabilidade de manter a estabilidade no país e ajudar na reconstrução após o terremoto de 2010.
Aos 40 anos, Lamothe é o mais jovem premiê da história do país. O esporte sempre foi parte de sua vida.
Chegou a integrar a equipe haitiana de tênis na Copa Davis em 1994 e em 1995, mas sem chegar à elite do torneio.
Enquanto competia, estudou nos Estados Unidos e, em seguida, lançou uma bem-sucedida empresa da área de telecomunicações.
Empossado primeiro-ministro em abril do ano passado, após indicação do presidente Michel Martelly, Lamothe afirma que a principal preocupação do governo é a geração de empregos.
O país tenta se recuperar, nos campos econômico e social, do terremoto.
"Ainda hoje, temos equipes removendo detritos de nossas cidades, mas temos feito grandes progressos -97% do total já foi removido, o que equivale ao volume de 4.000 piscinas olímpicas. Além disso, mais de 80% dos problemas de gente que estava sem moradia foram solucionados", diz o premiê.
Lamothe avalia que o país está pronto para a retirada das tropas da ONU -desde que feita de forma gradual, como vem sendo planejado.
"Dez anos de liderança de uma missão de paz vêm com um alto custo político e financeiro para o Brasil, que auxilia na manutenção de nossa estabilidade e segurança. Mas estamos prontos para o país promover essa retirada das tropas, de forma cuidadosamente organizada e devagar", afirma Lamothe.
O governo haitiano investe na reorganização de suas forças policiais e espera chegar a um número de 15 mil integrantes daqui a dois anos.

CIDADÃOS RESPEITÁVEIS

Após o terremoto, muitos cidadãos saíram do Haiti, às vezes de forma ilegal, em busca de melhores condições em outros países -inclusive no Brasil.
Apesar da condição precária de vida em municípios próximos à fronteira com a Bolívia, por onde entram, Lamothe é só elogios ao país.
"Nós temos trabalhado duro para monitorar a situação na fronteira, mas agradecemos por toda a cooperação das autoridades brasileiras nessa questão. Nos EUA e no Canadá, nossos cidadãos se tornaram parte respeitável das sociedades locais, e esperamos que o mesmo aconteça no Brasil", afirma.
Durante a visita ao país, Lamothe deve se reunir com ministros do governo federal, em Brasília, e com o empresariado paulista, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), onde espera atrair investimentos para o Haiti, especialmente na área têxtil.

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