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sábado, 18 de maio de 2013

Morre Videla, o general que impôs o reinado do terror sobre a Argentina


"Mal em estado puro". Ditador de 87 anos cumpria sentença de prisão perpétua - acrescida de 50 anos - pela morte, tortura e desaparecimento de civis, além do roubo de bebês filhos de prisioneiras políticas; até o fim, militar defendeu as ações da "guerra suja"

Arfeí Palaeios

CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

O ditador Jorge Rafael Videla - autor de sequestros, torturas e assassinatos de milhares de pessoas na Argentina durante o regime militar (1976-1983) - morreu ontem, de causas naturais, em sua cela da prisão de Marcos Paz. Videla tinha sido condenado em 2010 à prisão perpétua pelo assassinato de civis.
No ano passado, acumulou uma pena de 50 anos pelo roubo de 35 bebês, filhos de desaparecidas políticas. Na ocasião, em declarações nos tribunais, admitiu pela primeira vez a morte dos desaparecidos e deixou claro que não se arrependia disso.
O ditador - que comandou o país nos primeiros cinco dos sete anos de ditadura militar -não receberá nenhum tipo de honra militar durante o funeral.
Desde 2009, está em vigência  uma resolução que proíbe honras militares no sepultamento de ex-integrantes das juntas militares. Ele játinha sido destituído da patente.
A líder da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, declarou ontem que Videla era "um ser desprezível que deixou este mundo".
Videla nasceu em 1925 na cidade de Mercedes, Província de Buenos Aires. Filho de um coronel do Exército, seguiu a carreira do pai. Em agosto de 1975, a então presidente, Isabelita Perón, o promoveu a comandante do Exército. Poucos meses depois, em 24 de março de 1976, Videla liderou o golpe que a derrubaria. O general foi presidente de facto da Argentina até março de 1981 e comandou o período mais sangrento da ditadura.
Videla diferenciou-se dos outros líderes de regimes militares da América Latina pela aplicação de um plano de apropriação sistemática, de bebês. Filhos de prisioneiras políticas nasciam no cativeiro de suas mães, nos centros clandestinos de detenção e tortura. Após os partos, eram entregues a famílias de militares e policiais estéreis. Na sequência, as mães biológicas eram assassinadas.
A ditadura roubou 500 bebês. Deste total as Avós da Praça de Maio conseguiram nos últimos 35 anos devolver a identidade a 108 ovens que eram recém-nascidos na época da ditadura.
O regime de Videla também implementou um si stema inédito de eliminação dos prisioneiros, os "voos da morte". Sua ditadura teve o saldo de 30 mil civis sequestrados, torturados e mortos, além de 300 mil exilados.
No julgamento de 2010, Videla fez uma prolongada defesa das ações do regime e alegou a "necessária crueldade" da ditadura. O ditador também sugeriu que a "sociedade argentina" havia sido cúmplice da ditadura, já que, segundo ele, "não havia vozes contrárias" ao regime.  Videla também, disse que sua  sentença seria "injusta" e ele era um "bode expiatório".
María Seoane, que com Vicente Muleiro escreveu O Ditador, uma detalhada biografia não autorizada, afirmou ao Estado que "Videla não se arrepende de
nada, pois voltaria a matar todos aqueles que matou". "Não há nada de arrependimento nele. É o mal em estado puro." Segundo Seoane, "Videla reunia-se com o chefe de inteligência antes de ir à missa de manhã". "Nessas reuniões informava-se sobre quantos inimigos o regime assassinara no dia anterior e como estavam funcionando os 500 campos de concentração da ditadura."

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