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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Golpe militar derruba presidente do Egito um ano depois de eleição




Mohammed Mursi é detido após o Exército suspender a Constituição e nomear um interino
Em nota, Mursi rejeita deposição; Obama se diz preocupado e pede transição rápida para um novo governo civil
DIOGO BERCITOENVIADO ESPECIAL AO CAIRO


Mohammed Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, foi deposto ontem por um golpe militar após milhões terem ido às ruas pedir sua renúncia. Ele foi detido por militares.
Sua saída foi anunciada às 21h locais (17h, em Brasília) em rede nacional por Abdul Fatah al-Sisi, chefe do Exército --cujo discurso foi encoberto, nas ruas, pelo clamor popular. Mursi, disse o comandante, falhou em responder às demandas do povo.
Na segunda-feira, as Forças Armadas tinham imposto um prazo de 48 horas para que o islamita apaziguasse a insatisfação popular.
Antes de ir à TV, Sisi se reunira com a oposição --representada por Mohamed ElBaradei, ex-chefe da agência nuclear das Nações Unidas--, líderes do centro de estudos islâmicos Al-Azhar e membros da comunidade cristã.
Em nota antes de ser preso, o presidente deposto afirmou ser vítima de um "golpe militar categoricamente rejeitado por todos os que lutaram para que o Egito se tornasse uma sociedade civil democrática". Ele pediu aos seus partidários que resistam.
A Constituição do Egito está suspensa, e o país será presidido interinamente pelo chefe da Suprema Corte Constitucional, Adly Mansur. Não está claro quanto tempo irá durar o período entre a deposição de Mursi e novas eleições presidenciais no país.
O prazo dado pelo Exército foi encerrado às 17h locais (12h em Brasília), e as horas seguintes foram de ansiedade e incerteza nas ruas do Cairo. Depois do golpe, confrontos deixaram pelo menos quatro mortos no país.
Em nota, o presidente dos EUA, Barack Obama, se disse "profundamente preocupado" com a decisão das Forças Armadas de depor Mursi e suspender a Constituição. Ele pediu que os militares ajam para devolver o poder a um governo civil democraticamente eleito.
FRACASSO SIMBÓLICO
O fracasso do governo Mursi tem forte significado na região, por se tratar de um dos símbolos da Primavera Árabe. Ele substituíra o ditador Hosni Mubarak, deposto em 2011 após quase três décadas.
Sua saída também significa que falhou o governo baseado numa modalidade política do islã --mensagem clara para outros países em que a insurgência deu espaço para a ascensão de islamitas, caso de Tunísia e Iêmen.
Mursi assumiu em 2012 um país em crise econômica e social e, durante seu mandato, irritou a população ao insistir em uma agenda considerada conservadora demais.
Seus aliados, no entanto, defendiam seu direito constitucional de permanecer no cargo até 2016, quando se encerraria oficialmente sua Presidência. "Nós concordamos com um caminho, o das eleições", disse à reportagem Ahmad Shawqy, 32. "Elegemos a corrente islamita porque é a natureza do povo egípcio."
"Nosso coração está parando", disse à Folha Mama Salwa, apelidada "mãe da revolução" por sua participação nas ruas na deposição de Mubarak. "O Exército é parte do povo. São nossos irmãos, nossos filhos. Estão dividindo as pessoas para que se matem."
"Esse não é um golpe militar", rebatia David Nashwat, 27. "É uma correção histórica. A revolução foi roubada pelos islamitas, e nós queremos garantir que vamos ter um país livre e democrático."


Foto: www.meionorte.com

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