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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Onda vermelha morre na praia


Brasília e São Paulo — Deu errado a tática dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais de se infiltrarem nas manifestações realizadas ontem em pelo menos 117 municípios brasileiros. Em São Paulo, tão logo militantes do PT e sindicalistas da CUT chegaram à Avenida Paulista, foram cercados e hostilizados. "Sem partido, sem partido!", gritavam os presentes. "Fascismo, fascismo", respondiam os petistas. "O PT é oportunista", devolviam os manifestantes. "Queremos democracia", retrucavam os militantes do PT. Ficaram isolados. Houve empurra-empurra e um jovem deixou o local ferido na cabeça, sangrando muito.
Grupos de manifestantes rasgaram bandeiras do PT em plena Avenida Paulista e expulsaram os militantes do partido. Eram aproximadamente 150 petistas. No Rio de Janeiro, na Candelária, palco tradicional de protestos no Centro da capital fluminense, um grupo de sindicalistas da CUT levantou duas bandeiras vermelhas da entidade, que é ligada ao PT. Recebeu uma estrondosa vaia do público. Revoltados, participantes da passeata cercaram os sindicalistas e rasgaram os estandartes. Pequenas confusões aconteceram também na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
A decisão do PT e das centrais sindicais de participar do movimento popular que tomou conta do país — apesar dos repetidos gritos de ordem "sem partido!" que ecoaram pelas ruas nos últimos dias — foi idealizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na terça-feira, ele reuniu-se com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, para avaliar como a legenda poderia ligar sua imagem de maneira efetiva aos protestos.
Na quarta-feira, Lula recebeu os representantes das centrais sindicais no instituto que leva o nome dele e que virou o escritório de trabalho do ex-presidente. Segundo um dos presentes, Lula perguntou qual a avaliação dos sindicalistas em relação às manifestações. Mais ouviu do que falou. Em determinado momento, lançou a pergunta: "Vocês vão aderir"? A Força Sindical prometeu fazer, a partir de amanhã, uma série de paralisações em fábricas. A CUT disse que ia para a rua. "O que estamos assistindo é a um movimento legítimo, e boa parte das reivindicações que está nas ruas integra a nossa pauta. A CUT sempre defendeu que o país tenha políticas públicas que se traduzam em serviços de qualidade na educação, na saúde, no transporte público", defendeu o presidente nacional da central, Vagner Freitas, na Plenária Estatutária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, realizada ontem.

Sem entender
Tanto o PT quanto a CUT fizeram uma análise política dos movimentos. Na terça-feira, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que não consegue entender o que está acontecendo. "Nós somos acostumados com mobilização com carro de som, com organização, com liderança com quem negociar e poder fazer um tipo de acordo", disse ele. Por não conseguir protagonizar as passeatas, integrantes dos movimentos sociais e do PT tentam achar inimigos: "A direita reacionária estava infiltrada nas manifestações para atacar o governo", declarou ao Correio um sindicalista. "A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas", concluiu.
Em nota oficial divulgada no site do partido, antes das confusões verificadas com os manifestantes, o presidente do PT ressaltou sua "certeza de que o partido saberá lidar com atos isolados de vandalismo e violência, de modo que não sirvam de pretexto para tentativas de criminalização das manifestações".
Em outro parágrafo de sua nota, Falcão apontou as baterias para os tradicionais adversários, o PSDB de São Paulo: "Repudiamos a violência policial que marcou a repressão aos movimentos em várias praças do país, sobretudo em São Paulo, onde cenas de truculência, inclusive contra jornalistas no exercício da profissão".
Segundo o presidente do PT, "a insatisfação de parcelas da juventude em relação às instituições e aos partidos políticos revela a necessidade de uma ampla reforma do sistema político e eleitoral", dois pontos defendidos pelo partido no Congresso.

"Oportunistas!"
Grito de guerra dos manifestantes na Avenida Paulista, ao impedir a presença de militantes do PT e de sindicalistas da CUT
"Fascismo, fascismo!"
Resposta dos militantes do PT e de sindicalistas da CUT, que tentavam empunhar bandeiras vermelhas na manifestação de São Paulo.

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