A partir deste ano, a biodiversidade do país começa a ser monitorada de
perto com a criação do Inventário Floresta Nacional. Os biomas serão
analisados e revisitados a cada cinco anos. Para especialista, o
conhecimento é a maior arma contra a devastação
ÉTORE MEDEIROS
A
Floresta Amazônica passará por um minucioso mapeamento no segundo
semestre deste ano na realização do Inventário Floresta Nacional (IFN). A
iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) pretende reunir, até
2016, informações de cerca de 22 mil pontos amostrais de todos os biomas
brasileiros — cerrado, mata atlântica, pantanal e caatinga, além da
Amazônia. A intenção é que as áreas sejam revisitadas a cada cinco anos e
monitoradas de acordo com a evolução dos recursos florestais
existentes, contribuindo assim para elaboração de políticas de uso e
conservação das matas.
Apesar
de ser um país reconhecido e admirado mundialmente pela extensa
biodiversidade, um inventário das florestas no Brasil só foi feito uma
vez, entre as décadas de 1970 e 1980, ainda assim, mapeando somente os
recursos madeireiros disponíveis, seguindo uma tendência mundial que
buscava alternativas energéticas para a crise do petróleo. Para o
diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Joberto Veloso , no
século 21, o foco é outro. “O inventário de hoje está voltado para a
obtenção de dados como desmatamento, degradação, usos e funções das
florestas, biodiversidade e espécies em extinção”, define Veloso.
Para
fazer os registros em cada um dos 22 mil pontos de estudo, os
profissionais contratados seguirão um manual elaborado pelo SFB, que
determina a medição da altura e espessura dos troncos de árvores, coleta
de amostras de cada espécie vegetal e do solo. Também serão realizadas
entrevistas com moradores próximos às áreas pesquisadas.
Enquanto
o SFB centralizará e consolidará os dados obtidos em campo, as amostras
das plantas vão para diferentes herbários, responsáveis pelo trabalho
de reconhecimento das espécies. Para controlar o uso da metodologia
adotada, o inventário prevê parceria com universidades e institutos
regionais, que farão uma segunda medição de cerca de 10% dos pontos,
para efeito comparativo.
De
acordo com Heron Martins, pesquisador do Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon), conhecer a floresta é fundamental para
preservar os seus potenciais. “O principal inimigo das florestas é o
desconhecimento, que diminui o valor da floresta em pé, e ela passa a
valer mais como tora de madeira. Com o inventário, ficará mais fácil
evitar a construção de grandes obras, como estradas e usinas
hidroelétricas, em áreas de importância biológica”, afirma Martins,
destacando que não é preciso esperar pelo inventário para preservar as
florestas. “O asfaltamento de uma grande rodovia, como a BR-163, torna
diversas áreas acessíveis, e quando não há a presença do Estado, para
fiscalizar, é mais fácil que outros atores cheguem, descumpram as leis e
provoquem o desmatamento”, comenta o pesquisador.
Piloto
O
Distrito Federal e Santa Catarina tiveram as florestas mapeadas de
forma piloto, ao longo dos dois últimos anos, para a avaliação da
metodologia criada pelo SFB. Na capital do país, os primeiros resultados
devem sair no primeiro semestre de 2013, enquanto os de Santa Catarina
começaram a ser publicados durante o 63º Congresso Nacional de Botânica,
em novembro de 2012. Na ocasião, foi celebrada a descoberta de uma nova
espécie de bromélia.
O
Herbário Dr. Roberto Miguel Klein, da Fundação Universidade Regional de
Blumenau (FURB), em Santa Catarina, é um exemplo dos benefícios que o
IFN poderá trazer. “O herbário pulou de 10 mil para 35 mil registros, e
hoje conta com mais de 40 mil plantas, totalizando mais de quatro mil
espécies distintas”, comemora o curador, o professor André Luís de
Gasper.
O
professor pondera, entretanto, que o novo material será inútil sem a
formação de taxonomistas — especialistas em identificação de espécies —,
sem a manutenção e atualização dos sistemas informatizados e do
material oriundo das florestas. “Equipar os herbários e garantir que
acidentes como os do Instituto Butantã, da Universidade de São Paulo,
não aconteçam são fundamentais para a proteção deste tesouro”, alerta
Gasper. Em 2010, um incêndio comprometeu parte do coleção de mais de 70
mil serpentes e quase 500 mil aranhas e escorpiões.
Além
do mapeamento e coleta, o IFN também analisará cerca de cinco mil
pontos em todo o território nacional, por meio de imagens de satélites.
Ao serem cruzadas com os dados obtidos em solo, as informações
permitirão a formação de um panorama vasto e inédito das florestas
brasileiras. “A repetição do inventário a cada cinco anos possibilitará a
criação de séries temporais, que mostrarão tendências dentro das
florestas. Assim poderemos analisar os resultados de políticas que deram
certo ou as que precisam ser implementadas”, conclui Veloso.
Acesso por rodovia
O
Programa de Aceleração de Crescimento (PAC2) tem atualmente 5.279km de
rodovias em obras de pavimentação ou construção, de acordo com balanço
divulgado na semana passada, e a BR-163 responde por 978km do total. A
estrada, que liga o Rio Grande do Sul a Santarém, no Pará, tinha um
último trecho de terra, entre Guarantã do Norte, em Mato Grosso, e a
cidade paraense. O balanço do PAC2 informa que 62% da obra de
asfaltamento do trecho já está concluído, floresta amazônica adentro. Fonte: Correio Braziliense
|