Eleições periódicas e uma polícia que garanta a
segurança são desafios para que a força da ONU conclua seu mandato no
Haiti, o país mais pobre da América e arrasado em 2010 por um terremoto, afirmou em entrevista à AFP o general brasileiro Fernando Rodrigues Goulart.
O Haiti está no "caminho correto politicamente" e ninguém espera uma
regressão, mesmo após o retorno dos ex-presidentes Jean-Claude Duvalier
(1971-86) e Jean-Bertrand Aristide (que cumpriu mandatos em 1991, de
1994 a 1996 e de 2001 a 2004), disse o chefe da força militar da Missão
da ONU para a estabilização do Haiti (Minustah).
A continuação dos principais destaques da entrevista:
A Missão da ONU no Haiti completará uma década em 2014. O número das
tropas diminuiu e pela primeira vez chegou ao nível de antes do
terremoto de 2010. Há uma data prevista para o final do mandato?
"Não há data prevista para o fim da presença no Haiti. Estamos com um
plano que vai de 2013 a 2016, o que para o componente militar significa
uma redução gradual da força, uma vez que a polícia do Haiti está
aumentando gradualmente sua capacidade".
Quais são os principais desafios da missão?
"O desafio é a manutenção da estabilidade e da segurança. O país está
estável e seguro. A tarefa primordial é mantê-lo desta forma. Além
disso, precisamos estruturar a polícia, que ainda necessita de apoio
(...) ajudar para que o Haiti desenvolva a capacidade plena de conduzir
as eleições (...) e ainda temos as questões de direitos humanos,
legislativas, judiciais e de governabilidade: instituições do governo
(...) que devem ser melhor consolidadas para garantir a normalidade
democrática e plena governabilidade".
A presença do ex-ditador
Duvalier - que esta semana se apresentou à justiça de seu país, alvo de
denuncias por prisões arbitrárias e torturas - e de Aristide não provoca
temores de que problemas do passado retornem?
"Esse é um assunto
haitiano. O Haiti está sabendo lidar com a presença dessas
personalidades. A Minustah entende que seu mandato está sendo plenamente
executado, confia que o Haiti está no caminho correto politicamente e
que continuará fazendo progressos".
Então não há a preocupação de um retorno de situações do passado?
"Ninguém espera tal retorno e trabalhamos para que o Haiti não tenha
nenhuma regressão em nenhuma área, tanto no desenvolvimento social como
econômico e político".
Preocupa o fato das eleições previstas
em 2012 ainda não terem sido convocadas e a possibilidade de uma
renovação parlamentar apenas parcial?
"É importante que haja
consenso nas instituições haitianas para que não haja esses atrasos nas
eleições, que são fundamentais para o processo democrático".
A política continua a ser uma fonte de instabilidade e violência?
"Acreditamos que o Haiti já alcançou um nível, que é comprovado com as
sucessões de presidentes eleitos democraticamente em 2006 e 2011. Isso
para o Haiti é uma sequência que traz bastante confiança quanto a esta
normalidade democrática e nos permite ter uma expectativa bastante boa
de que o país está no caminho correto".
Existe um desgaste com a
presença estrangeira? De que maneira surgiu a denuncia de que a
epidemia de cólera, que matou em 2010 cerca de 8.000 pessoas, pode ter
sido introduzida por forças da paz?
"Não diria que existe esse
desgaste. A missão está aqui com o consentimento haitiano, como qualquer
missão de paz. O que vemos é uma aceitação como uma presença benéfica.
No caso da cólera (...) não temos a comprovação (de que a cólera foi
introduzida por soldados da ONU). O componente militar atuou muito,
chegando em áreas isoladas (...). Atuamos da maneira mais intensa
possível para prevenir e eliminar a cólera no Haiti".
Fonte: Terra/montedo.com
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